30 maio, 2007

Chegar à universidade pública é a realização do sonho de muitos alunos da rede pública


Claudia Caciquinho

Meiga, com voz em tom suave, assim é Iara Soares Santos, 20 anos, estudante do primeiro semestre do curso de Pedagogia, da Universidade Estadual da Bahia (UNEB). Jovem cheia de sonhos espera trabalhar na área da psicopedagogia ou recursos humanos. Estudou em escola pública desde a 5ª série do ensino fundamental. Cursou o ensino médio na Escola Estadual Democrática Professor Rômulo Almeida, localizada no bairro Imbuí, na capital baiana e conquistou através de muito estudo uma vaga na universidade pública, objetivo de muitos alunos que estudam na rede pública de ensino.

Ao concluir o 3º ano, Iara se matriculou num cursinho pré-vestibular particular. A universitária enfatiza: “O ensino público é muito carente, vários assuntos que vi no cursinho não vi na escola, principalmente, na disciplina física. Apenas com o conteúdo visto na escola não é capaz de aprovar um aluno na universidade pública, mas depende muito do aluno. Acho que o governo deve dar uma atenção maior ao ensino público”. Falou ainda, com entusiasmo e gratidão, que os professores são muito dedicados, sobretudo, apresentam boa vontade em tirar dúvidas quando um aluno chega com alguma questão de prova de vestibular para ser solucionada. Nas avaliações da escola sempre tinha questão de vestibular, ressalta a futura pedagoga.

Segundo a professora de Geografia Veruska Assad, o aluno da escola pública chega ao ensino médio sem uma base estruturada, sem preparo. “No colégio há uma boa coordenação, valorizando o aluno, mesmo diante de tantas dificuldades. O lado humano é que fala mais alto”, ressalta a docente, que trabalha nesta escola.

No 3º ano, do ensino médio, há uma direção específica para o vestibular nesta escola. A equipe de professores está sempre voltada aos assuntos em evidência e que possivelmente poderão cair no concurso. Buscam estar sempre atualizados para colocar o aluno apto para prestar o vestibular. Na disciplina de Língua Portuguesa, por exemplo, são trabalhados os livros e os filmes que poderão ser questões nas provas, assim como as demais matérias também estão voltadas para o exame rumo à universidade, disse a professora.
Em 2005, o colégio obteve uma avaliação satisfatória no Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) ficando na sexta colocação, com relação ao estado baiano. Há bons resultados na aprovação de alunos nos concursos da UNEB e da Universidade Federal da Bahia (UFBA), disse com orgulho a professora de Geografia.

É através de convênios com suas quatro universidades públicas estaduais, que o governo da Bahia facilita o acesso do estudante da escola pública à faculdade através de cotas. O Universidade Para Todos e Faz Universitário, são programas oferecidos pelo governo estadual. Para participar o aluno precisa ter estudado em escola pública desde a 5ª série do ensino fundamental até o 3º ano do ensino médio, declara Patrícia Machado, coordenadora do programa Universidade Para Todos.Além destes programas o Governo Federal dispõe o Programa Universidade Para Todos (PROUNI), com bolsas, integrais ou parciais, para alunos de baixa renda às universidades particulares. Mas para isso o aluno deve ter cursado todos os anos do ensino médio em escola pública, informações disponíveis no site do MEC.


*Texto desenvolvido para a disciplina Oficina de Texto II, em maio/2007.
** Foto: Internet

10 maio, 2007

A dupla jornada de jovens mães estudantes

Claudia Caciquinho

Grávida de seu primeiro filho, Gleice Pereira dos Santos, 17, está cursando a 2ª série do ensino fundamental na Escola Municipal Agnelo de Brito, no bairro da Boca do Rio. A futura mamãe ainda tem uma importante etapa a ser vencida: concluir seus estudos. A iniciação sexual precoce, a falta de alguns cuidados e de uma orientação direcionada, faz que o risco de acontecer uma gravidez inesperada possa se tornar um grande problema para as jovens estudantes.

Com jeito de menina, Gleice se destaca de suas colegas por apresentar uma característica diferenciada, sua gravidez. Ela afirma que recebeu a notícia com naturalidade. É casada, mora próxima a escola e, quando o seu bebê nascer, pretende retornar às aulas logo em seguida. Os horários das mamadas não serão problemas para se afastar dos estudos, assegura sorridente. A criança ficará com sua irmã quando retornar à escola. Confiante com a nova fase em sua vida, ela acrescenta ainda que espera contar com apoio dos colegas e professores para lhe atualizarem sobre os assuntos perdidos enquanto estiver afastada.

A futura mamãe faz parte das estatísticas do crescente número de gravidez precoce entre jovens menores de 20 anos. Na região Nordeste, atingia 18,4% dessas meninas, em 1994. Em 2004, este índice aumentou para 23,9%, um crescimento de cinco pontos percentuais. Já no quadro nacional, este índice é menor, passando de 18,1% para 20,6%, segundo informações disponíveis no site do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Na Escola Agnelo de Brito há casos de mães adolescentes, assim como mães maduras que depois de muito tempo se dedicando à família voltaram aos estudos. Há na instituição projetos interdisciplinares que auxiliam seus alunos em diversos temas, como Sexualidade, DST, Cuidados com o Bebê, Cidadania, entre outros. Os temas são debatidos em sala de aula, trabalhando com a orientação educacional, esclarece a vice-diretora, Luciana Pereira Ramalho.

“Ano passado parei de estudar para ter meu segundo filho”, revela Jucineide Jesus Santos, 25, aluna da 2ª série, mãe de Francielle, 6 meses e Fabrício, 6. Disse ter ficado triste ao saber de sua segunda gravidez, temendo deixar novamente os estudos, e assim aconteceu. Mas não desanimou. Neste ano, voltou à escola em busca de sua realização. Quando teve Fabrício, aos 19 anos, largou os estudos para cuidar do seu bebê. Em casa, estuda à tarde quando o seu filho mais velho está na escola e a caçula tira a soneca vespertina. O pai fica com as crianças para que ela possa freqüentar as aulas. “Meu marido me dá muito apoio”, disse Jucineide com um enorme sorriso no rosto.

Na Escola Municipal Metodista Susana Wesley, também localizada na Boca do Rio, há uma outra realidade. Não existem casos de gravidez na adolescência. No período noturno, há mães “maduras” que retornam às salas de aula após outros projetos na vida. “Os alunos recebem orientações direcionadas às fases do crescimento. Crescem com a conscientização de que tudo tem o seu momento na vida”, afirma com orgulho de sua administração a diretora Maria José Falcão. O prédio apresenta instalações bem conservadas. Suas paredes são decoradas com cartazes coloridos confeccionados pelos alunos de 1ª à 4ª série do ensino fundamental.
A Secretaria Municipal de Articulação e Promoção da Cidadania (SEMAP) atua com programas de planejamento familiar e promove a cidadania através dos programas Intervenção Social, Educação para Saúde Reprodutiva e Garantia dos Direitos Humanos. As escolas podem solicitar agendamento de palestras pelo telefone (71) 3244-9335. “O órgão vai até as escolas para apresentar seus programas”, informou a sub-coordenadora do projeto Planejamento Familiar, Maria Goreth Cidade.

* Ilustração: Xandinho
** Texto desenvolvido para a disciplina Oficina de Texto II, em abril/2007.