10 maio, 2007

A dupla jornada de jovens mães estudantes

Claudia Caciquinho

Grávida de seu primeiro filho, Gleice Pereira dos Santos, 17, está cursando a 2ª série do ensino fundamental na Escola Municipal Agnelo de Brito, no bairro da Boca do Rio. A futura mamãe ainda tem uma importante etapa a ser vencida: concluir seus estudos. A iniciação sexual precoce, a falta de alguns cuidados e de uma orientação direcionada, faz que o risco de acontecer uma gravidez inesperada possa se tornar um grande problema para as jovens estudantes.

Com jeito de menina, Gleice se destaca de suas colegas por apresentar uma característica diferenciada, sua gravidez. Ela afirma que recebeu a notícia com naturalidade. É casada, mora próxima a escola e, quando o seu bebê nascer, pretende retornar às aulas logo em seguida. Os horários das mamadas não serão problemas para se afastar dos estudos, assegura sorridente. A criança ficará com sua irmã quando retornar à escola. Confiante com a nova fase em sua vida, ela acrescenta ainda que espera contar com apoio dos colegas e professores para lhe atualizarem sobre os assuntos perdidos enquanto estiver afastada.

A futura mamãe faz parte das estatísticas do crescente número de gravidez precoce entre jovens menores de 20 anos. Na região Nordeste, atingia 18,4% dessas meninas, em 1994. Em 2004, este índice aumentou para 23,9%, um crescimento de cinco pontos percentuais. Já no quadro nacional, este índice é menor, passando de 18,1% para 20,6%, segundo informações disponíveis no site do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Na Escola Agnelo de Brito há casos de mães adolescentes, assim como mães maduras que depois de muito tempo se dedicando à família voltaram aos estudos. Há na instituição projetos interdisciplinares que auxiliam seus alunos em diversos temas, como Sexualidade, DST, Cuidados com o Bebê, Cidadania, entre outros. Os temas são debatidos em sala de aula, trabalhando com a orientação educacional, esclarece a vice-diretora, Luciana Pereira Ramalho.

“Ano passado parei de estudar para ter meu segundo filho”, revela Jucineide Jesus Santos, 25, aluna da 2ª série, mãe de Francielle, 6 meses e Fabrício, 6. Disse ter ficado triste ao saber de sua segunda gravidez, temendo deixar novamente os estudos, e assim aconteceu. Mas não desanimou. Neste ano, voltou à escola em busca de sua realização. Quando teve Fabrício, aos 19 anos, largou os estudos para cuidar do seu bebê. Em casa, estuda à tarde quando o seu filho mais velho está na escola e a caçula tira a soneca vespertina. O pai fica com as crianças para que ela possa freqüentar as aulas. “Meu marido me dá muito apoio”, disse Jucineide com um enorme sorriso no rosto.

Na Escola Municipal Metodista Susana Wesley, também localizada na Boca do Rio, há uma outra realidade. Não existem casos de gravidez na adolescência. No período noturno, há mães “maduras” que retornam às salas de aula após outros projetos na vida. “Os alunos recebem orientações direcionadas às fases do crescimento. Crescem com a conscientização de que tudo tem o seu momento na vida”, afirma com orgulho de sua administração a diretora Maria José Falcão. O prédio apresenta instalações bem conservadas. Suas paredes são decoradas com cartazes coloridos confeccionados pelos alunos de 1ª à 4ª série do ensino fundamental.
A Secretaria Municipal de Articulação e Promoção da Cidadania (SEMAP) atua com programas de planejamento familiar e promove a cidadania através dos programas Intervenção Social, Educação para Saúde Reprodutiva e Garantia dos Direitos Humanos. As escolas podem solicitar agendamento de palestras pelo telefone (71) 3244-9335. “O órgão vai até as escolas para apresentar seus programas”, informou a sub-coordenadora do projeto Planejamento Familiar, Maria Goreth Cidade.

* Ilustração: Xandinho
** Texto desenvolvido para a disciplina Oficina de Texto II, em abril/2007.

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